Morador faz série de vídeos para registrar destruição em Taquarituba

O representante comercial Francis Almeida Cavallaro, de 29 anos, comparou ao cenário da Síria a destruição da cidade de Taquarituba, no interior de São Paulo, depois da passagem de um tornado no último domingo (22), que deixou ao menos dois mortos e mais 60 feridos.

Assim que sentiu que o fenômeno havia passado na cidade de 24 mil habitantes, Francis começou a documentar a tragédia em uma sequência de 8 vídeos, postados em seu canal no YouTube (youtube.com/channel/UCkrtk8YxP2s2LcXzIfMzoNQ/videos), narrando o cenário caótico e de destruição do local.

“O parque industrial estava com vazamento de combustível, e fui impedido de entrar pelo grande risco de explosão. A polícia interditou na hora”, disse Cavallaro por telefone ao G1, afirmando que a tragédia poderia ainda ser pior se houvesse ocorrido um incêndio no polo industrial de Taquarituba.

Visitando pontos estratégicos da cidade, o homem seguiu para outros lugares, incluindo onde ocorreu um acidente de ônibus, o terminal rodoviário, um centro poliesportivo para, por fim, narrar a destruição do bairro de Dona Carmélia onde, de acordo com ele, mais de 70% das residências foram atingidas.

O registro, num primeiro momento, serviria na verdade para alertar aos parentes da família espalhados pelo Brasil, e informar que todos na casa de Francis estavam bem. “Tenho vários parentes espalhados no Brasil: em Goiás, Santa Catarina, Paraná. Pensei em relatar para eles saberem que eu e minha família estávamos bem. Foi um impulso, vendo toda aquela tragédia, que você só vê em filme”, explicou Cavallaro, que está no 6º período do curso de direito.

“Meu bairro fica totalmente oposto [ao local do tornado], mas, quando o tornado passou, minha casa balançou. Não aconteceu nada grave, mas foram 2 minutos que balançou a casa”, relembrou Francis.

O ônibus, a rodoviária e o ginásio O primeiro lugar para o qual Francis se dirigiu foi onde havia ocorrido um acidente de ônibus. De acordo com sua descrição, havia 30 pessoas no coletivo, e o tornado “simplesmente arrastou o ônibus e jogou ele em um imóvel em construção”, descreveu, lembrando que, caso o veículo não tivesse batido na estrutura, teria rolado barranco abaixo, podendo causar uma tragédia muito pior. O motorista do veículo morreu no local.

“Segui para a rodoviária, e estava completamente destruída. Não existe mais rodoviária”, lamentou o representante, lembrando que amigos próximos foram bastante atingidos pela passagem do tornado por Taquarituba. “A uns 50 metros da rodoviária tem uma casa amarela, e é de amigos muito próximos da minha família. [O tornado] destruiu a maior parte da casa, e o carro deles ficou totalmente danificado”, relembrou o morador. Após observar o terminal rodoviário de Taquarituba em escombros, Francis se dirigiu ao centro poliesportivo da cidade, que desabou enquanto jovens jogavam futebol. De acordo com informações do Corpo de Bombeiros de Avaré, um jovem de 21 anos teria morrido ao ser atingido pela estrutura do ginásio.

“Esse jovem que faleceu também é conhecido meu, era um rapaz que frequentava a congregação cristã. Toda a família é evangélica”, relatou Cavallaro sobre a vítima do desabamento, e complementando que haveria outras três feridos graves, e que um dos jovens teria escapado do desastre por pouco. “O menino estava jogando bola e foi ao banheiro, que era de laje. Quando ele voltou, estava tudo destruído”, contou, afirmando que chegou a encontrar o rapaz, mas que estava “muito abalado” para conversar.

Desolados 

Enquanto os empresários da cidade calculam os prejuízos causados pela catástrofe, os moradores tentam entender a tragédia que, além de tirar vidas, pode prejudicar ainda mais o desenvolvimento da cidade de 24 mil habitantes. “A cidade está parada, tá uma sujeira danada, tá um caos. Todos estão aéreos, perambulando pela cidade, ninguém captou a tragédia. As pessoas não assimilaram”, descreveu Francis, que contou que não conseguiu trabalhar devido à destruição do local. “Parecia que eu estava na Síria, com aqueles escombros, uma Faixa de Gaza”, comparou.

“O polo industrial da cidade não existe mais, era o lugar que mais empregava. Aonde esse povo vai trabalhar se não existe lugar para trabalhar?”, pontuou Cavallaro. “A cidade está assustada. Hoje o prefeito deu um depoimento e a expectativa é que deva demorar anos para a cidade se levantar. É uma cicatriz que jamais vai se desfazer”, disse o representante comercial, lembrando que boa parte da cidade ainda está sem telefone, internet e água, e que alguns serviços podem demorar “até meses” para voltarem.

O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, juntamente com membros da Defesa Civil Estadual, visitou Taquarituba (SP) nesta segunda-feira (23) para conferir os estragos causados pelo tornado que atingiu a cidade. O prefeito Miderson Zanelo já decretou estado de calamidade pública, ação usada quando há grandes catástrofes com vítimas. Com o decreto, o município pode receber verba do Estado e fazer compras emergenciais, sem precisar de licitação.

Solidariedade
De acordo com Francis, a microrregião está se unindo para tentar ajudar as centenas de moradores desalojados. Em cidades próximas como Águas de Santa Bárbara (a 107 km) e Itaí (cerca de 20 km), escolas estão fazendo campanhas para doação de alimentos, e carros de som passam pelas ruas pedindo ajuda para que os moradores doem roupas e outros mantimentos.

Classificação de um tornado Segundo Fábio Rocha, meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas (Inpe), a ocorrência do fenômeno depende de vários fatores. "A formação do tornado depende de uma condição atmosférica intensa e de nuves de tempestade. Existe uma escala que vai de 1 a 5, sendo 5 o extremo, com a velocidade de 400 km/h, que pode até passar disso. Os registros que temos no Brasil são de tornados de categoria 1, ou seja, não tão intensos. Apesar dos registros, é difícil fazer uma previsão de velocidade pelo fenômeno ser muito rápido e difícil de avaliar, explica Fábio.

Dados da meteorologia apontam que São Paulo recebeu uma frente fria vinda do sul do país, que, em contato com a onda de calor que estava sobre o Estado, provocou muita chuva no sul e sudoeste, atingindo a região de Itapeva, Itapetininga e Taquarituba. A previsão do tempo para o domingo (22) informava sobre a chegada desta frente fria à região, mas o tornado não era esperado. “Aqui no Brasil não temos aparelhagem para prever esse fenômeno. Se nos EUA, onde isso ocorre com frequência, já há uma certa dificuldade para anteceder a ocorrência de tornados, no Brasil, então, é praticamente impossível”, diz a meteorologista da Somar.

fonte: G1

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