POR NATHALIA ZACCARO com edição de Rubens Oficial
15.06.2018 - Luisa Dörr estava se firmando como fotógrafa no Brasil, depois de emplacar alguns trabalhos na Ásia, quando cruzou com Maysa Leite, então com 11 anos, em um concurso de Miss Brasil Infantil, em São Paulo. Naquele dia, em abril de 2014, ela fez o primeiro de uma série de sensíveis retratos que marcam a trajetória de Maysa em busca do sonho de se tornar uma miss — e que segue até hoje.
"É um projeto sobre raça, gênero, sexismo e inclusão social", explica Luisa. Em 2017, as fotos de Maysa foram descobertas pela produção do programa do Gugu, que contou a história da garota ao vivo na Record, descolou para ela um contrato com uma agência de modelos e se comprometeu a pagar seus estudos. Para Luisa, 29 anos, a parceria com Maysa também trouxe reconhecimento.
No ano passado, Kira Pollack, diretora de arte da revista Time, cruzou com uma foto de Maysa do feed do Instagram da fotógrafa. “Havia incontáveis imagens de mulheres em paisagens etéreas, porém cruas. Luz natural, lindos tons, fotos incrivelmente consistentes”, escreveu Kira sobre a brasileira.
Luisa foi convocada então para o projeto Firsts, que clica pioneiras. Hillary Clinton, Ellen DeGeneres, Oprah Winfrey, Serena Williams e Shonda Rhimes estavam entre as homenageadas. Em setembro do ano passado, a revista publicou 12 capas diferentes a partir do projeto, todas estampadas pelos cliques assinados por Luisa. "Até hoje, sou mais contratada para trabalhar fora do país", conta.
Um detalhe fez barulho na época do lançamento das capas: todas as imagens foram feitas com iPhone. "Fotografar com o telefone não é mais fácil. É preciso pensar na foto da mesma forma, compor e pensar a luz. Me sinto mais leve, embora trabalhe com a câmera também. Depois da Time, mais publicações me permitiram usar o iPhone, e acho que isso é um bom sinal: deixar que o fotógrafo use o equipamento que quiser para contar a história."
Neste ano, a fotógrafa lançou a série Falleras. Luisa mergulhou no tradicional universo das mulheres e meninas que participam da gigante festa Las Fallas, que reúne anualmente 100 mil pessoas na cidade de Valência (Espanha). Contou histórias como a de Lola, uma garota etíope de 10 anos adotada por uma família espanhola e que participou do último concurso infantil do evento.
O fascínio de Luisa pelo feminino pode ser visto em vários de seus trabalhos. "Fico feliz em contar histórias de quem historicamente foi sub-representado." Desde 2016, ela toca o projeto #womantopography, em que retrata mulheres pelo mundo. "Não apenas suas marcas físicas, mas também os traços espirituais", conta.
Ela está trabalhando também na série The Bride’s Veil, em que fotografa as fiéis da Congregação Cristã no Brasil. "Sou de família evangélica e achava que sabia tudo sobre esse universo, até conhecer essa igreja, a mais ortodoxa em relação às mulheres." No futuro, pretende apontar suas lentes para as parteiras do litoral da Bahia, onde mora. "Quero contar nossas histórias."
Linda!
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